quinta-feira, 24 de abril de 2008

[CD] Hard Candy, Madonna [2008]

[Ao som de Miles Away, Madonna - Hard Candy, 2008]



Pouco mais de dois anos de espera e os fãs de Madonna já estão prestes a colocar as mãos em seu mais novo trabalho, que chega às lojas de quase todo o mundo no dia 29 de abril. Hard Candy é, para muitos, sinal de mudança. Para outros, uma tentativa em razão de agradar o mercado dos Estados Unidos - talvez a maior frustração de Madonna em termos de aceitação. O que se pode dizer, com certeza, é que o álbum é uma coletânea de possíveis e prováveis hits. Com uma proposta totalmente diferente de seu último lançamento - o disco eletrônico Confessions On A Dance Floor, que parecia mais uma mixtape repleta de sucessos como Hung Up, Sorry e Get Together - Hard Candy nasce para figurar entre os CDs Pop contemporâneos. Não, realmente não se trata de um álbum R&B, está mais para um Pop com elementos Urban.


As 12 faixas da versão oficial buscam mostrar o poder de Madonna sobre o mundo. Primeiro ela tem uma loja com os mais deliciosos doces, depois é a heroína de uma catástrofe mundial, passa por momentos profundos e introspectivos, enfrenta uma impostora, dá aulas de espanhol com um tom cômico e termina com um tema que tem tudo para ser um hino de amor/ódio com um toque S&M, tudo isso com referências não tão sutis ao sexo. A produção, que fica por conta de Timbaland, Justin Timberlake, Pharrell Williams e da própria Madonna não faz feio. Grande parte das faixas, porém, parecem um tanto produzidas demais, como se Madonna estivesse tentando um tanto quanto demais para que o CD se aproximasse o máximo possível da black music. São nesses momentos que alguns deslizes extremamente normais acontecem e, somados à falta de bridges e ao vocal que é sempre igual em todas as músicas, acaba tornando alguns trechos um tanto quanto entediantes e irritantes. É o caso das extremamente longas She's Not Me e Incredible, onde repetições na letra somadas às constantes mudanças de melodias e o dispensável instrumental do final cansam o ouvinte. Parece que a tentativa de se fazer uma nova mixtape, dessa vez com um estilo diferente, não fora muito feliz.


O que não tira e em nada o brilho de canções espetaculares, como a influenciada por The One de Kylie Minogue, Heartbeat e a introspectiva e obscura Miles Away. É no momento em que Madonna se rende a essa certa vibe underground que suas canções brilham. Voices é talvez uma das mais interessantes surpresas dentro do contexto de Hard Candy. Embora as melodias sejam um tanto quanto plastificadas e lembrem, em muitos casos, melodias já utilizadas por Brandy, Gwen Stefani, Nelly Furtado e o próprio Justin Timberlake - todos esses artistas já foram produzidos por algum dos responsáveis por Hard Candy - é na extremamente original Spanish Lesson que Madonna consegue fugir de tudo isso, dando uma certa sensação de nostalgia em relação à utilização de elementos latinos em momentos anteriores de sua carreira.


A extensão de Hard Candy nos mostra que o 11º álbum de estúdio de Madonna não fará feio. A cantora disse que tenderia para a black music e realmente não estava brincando. Entre a poluição sonora de músicas como o single 4 Minutes e a necessidade de editar trechos de Give It 2 Me, S
he's Not Me, Incredible e Devil Wouldn't Recognize You, Madonna consegue brilhar quando se deixa aproximar mais do electro-pop, deixando o desconforto do Urban de lado e dominando o território que ela tem como refúgio certo. Com certeza os remixes que serão feitos para este CD serão incríveis. Cada música parece feita para virar electro-pop em sua versão remixada. Os quase 50 anos de vida e os mais de 25 de carreira certamente não anunciam seu fim. Madonna volta após quase três anos de ausência e não decepciona seus fãs e, surpreendentemente nem alguém que não é seu fã, como eu.


Tracklist:
01. Candy Shop
02. 4 Minutes (Feat. Timbaland & Justin Timberlake)
03. Give It 2 Me
04. Heartbeat
05. Miles Away
06. She's Not Me
07. Incredible
08. Beat Goes On (Feat. Kanye West)
09. Dance 2Night (Feat. Justin Timberlake)
10. Spanish Lesson
11. Devil Wouldn't Recognize You
12. Voices


DESTAQUES: Miles Away, Heartbeat, Voices e Spanish Lesson são incríveis. As produções de Pharrell também dão um banho nas de Timbo e Timber.

FRACAS: 4 Minutes, Candy Shop, a repetitiva Incredible e os vocais de Justin Timberlake.


AVALIAÇÃO

(3.5 de 5.0)


AVALIAÇÃO DO LEITOR:


Rafaélico.

[Ao som de Voices, Madonna - Hard Candy, 2008]

quarta-feira, 16 de abril de 2008

[CD] Complicated, Nivea [2005]

[Ao som de Vanishing, Mariah Carey - Mariah Carey, 1990]



INTRODUÇÃO: Nivea - A jovem desconhecida do Crunk'nB.


Nivea é mais uma desconhecida no mundo do entretenimento. Não tive contato algum com nenhum trabalho dela até o ano de 2005. Logo após ouvir o primeiro single de Complicated, Okay (Feat. Lil' Jon & Young Bloodz), busquei algumas informações e descobri que este era o segundo álbum da cantora, e que o primeiro trabalho, auto-intitulado Nivea, foi um grande desastre, exceto pela canção Don't Mess With My Man, que alcançou o top 10 no Hot 100 da Billboard e ainda conseguiu uma indicação para o Grammy em 2003. Dois anos se passaram e, logo após os fracassos dos singles posteriores, Nivea nos deu uma grande surpresa: o álbum Complicated. Por conta de sua gravidez e da falta de promoção da gravadora, o álbum só teve um single lançado e outros dois enviados promocionalmente para as rádios. Tudo isso comprometeu ainda mais a carreira de Nivea que, após o rompimento de contrato com a Jive, lançou seu terceiro CD - Animalistic - apenas no Japão, através de sua nova gravadora. Há planos de que este CD seja reformulado e lançado nos Estados Unidos, mas sem as produções de The Dream, agora ex-marido da cantora. Complicated, portanto, é um bom título para identificar a busca pelo reconhecimento de Nivea e espero que ao longo dessa resenha fique claro o porquê ela deveria ter sido levada a sério e também o porquê ela poderia ter feito o sucesso que a Rihanna fez no ano de 2007.


RESENHA: Complicated [LP]


Com composições originais da própria Nivea e de seu marido na época, o grande produtor do mega-hit Umbrella, The Dream, eles conseguiram mergulhar no R&B contemporâneo e mais especificamente no intrigante estilo Crunk (prefiro chamar de Crunk'nB)*. Identificaram e reproduziram os fatores que tornaram bem-sucedidas inúmeras canções do gênero, através da livre utilização de samples e referências a músicas como Burn, do cantor estadunidense Usher (em Breathe). Todas as 14 faixas do LP (contando a faixa-bônus) poderiam facilmente ter sido lançadas como single, especialmente as duas produzidas por Jermaine Dupri - Complicated e Parking Lot - este que é conhecido por produzir grandes artistas da black music, recentemente sendo um dos protagonistas no retorno da Diva Mariah Carey ao topo das paradas.


01. Rain (Interlude): Som de chuva forte, harmônicos ao fundo, certamente uma melodia voltada para o R&B. A intro, praticamente falada, é um hino sobre o quanto a chuva pode ser sinônimo de tristeza, mas que ao mesmo tempo vem para purificar e levar embora tudo de ruim que carregamos. Sem a tempestade, não poderá surgir a bonança.

In order to see sunshine in the end

There would have to be rain in the beginning
Right now it's pouring...


02. Complicated: Bom, ainda continua chovendo e a vida de Nivea começa a descomplicar. A faixa, que foi eleita como 3º single - embora nunca fora lançada oficialmente - é mais uma das baladas desenhadas por JD. É nesta slow jam voltada ao R&B contemporâneo que Nivea exalta que o amor não é sempre complicado, embora quem está de fora possa torcer contra algo tão forte. O melhor da música é a bridge, que nos deixa com uma ponta de inveja, tamanho é o sentimento que ela nutre, embora haja adversidades.


Boy you make me feel so beautiful

And I ain't never gonna let you go


People say this ain't how it's supposed to go

But I refuse to believe cause it happened to me

One day you're standing in the middle of the road

And you don't where you're goin'

All of a sudden your whole life changes

Then life finally gives you somethin' back

It's been a mean world without you

Boy I love ya, I
love ya


I think about us (all day)

Dream about ya (always)
Love ain't always (com-pli-cat-ed)


03. Okay (Feat.Lil' Jon & Young Bloodz): O primeiro single do CD já tinha tudo pra ser um escândalo. Primeiramente a parceria com um dos mestres da Crunk music, Lil' Jon, depois a letra um pouco abusada e os ad-libs um tanto quanto interessantes. Seguidos de "La la la la, la la la la", a música se constrói a partir de uma batida um tanto quanto similar ao que se encontra na contemporaneidade. Mesmo sem muita inovação, porém, o refrão consegue fazer com que fiquemos querendo ouvir mais e mais, até o fim da canção. A contribuição de Lil' Jon é um tanto quanto especial, dando mais notoriedade para a música na rádio. Creio que foi assim que conseguiu fazer um pouco de barulho. Mesmo assim é uma música animada, bem no estilo daquelas que tocam em baladas e clubs por aí, mostrando o que há de melhor no Crunk'nB.


Your hands all on my booty,
Two stepping in my cutchie,
They're like go girl (go girl), go girl (go girl), go girl (go girl)
U like the way I shake it,
You wanna see me naked,
It could be your night, your night, your night
All my girls get your hair fixed and your nails done put your hands up and say


Okay (okay), okay (okay), okay (okay), okay (okay)

U get a drink, get another one make him pay for it
Put it in the air and say

Okay (okay), okay (okay), okay (okay), okay (okay)


04. Parking Lot: Certamente uma das mais refinadas produções de JD no ano de 2005. Voltada essencialmente pro estilo Crunk'nB, Parking Lot é uma canção mid-tempo, podendo muito bem ser intitulada a canção da traição. Os ad-libs do início já indicam como será a música (Get crunk, get crunk). Durante 3:51 maravilhosos minutos ela consegue se auto-denominar a vadia da área, aquela que liga inúmeras vezes para o amante enquanto o marido dorme, marcando um encontro com ele em seu carro, no estacionamento do Mc Donald's da Avenida Harris. Sem meias-palavras ela quer encontrá-lo pronto para satisfazer o pedido - aí entra um trocadilho interessante com os especiais do próprio Mc Donald's. Letra forte e melodia intrigante, Parking Lot teve que ser reformulada pra que pudesse tocar nas rádios. Ela passa, então, de adúltera, para uma vadia qualquer, mas que não trai o marido.


Letra do CD:

I need to see you now, can you get out?
My man is at the house, so
Meet me at the Mc Donald's parking lot
And I got to stop, cause we in the drop
But I just got to, cuz I got my man

But you understand that he's not you

And I can't help it I'm gonna meet you here tomorrow night
I'm telling you (Whoaaa)


Letra do Single:

I need to see you now, can you get out?
I'm about to leave the house, so
Meet me at the McDonalds parking lot
And I got to stop, cause we in the drop
But I just got to, can't let you go
Get a little more, oh it's all about you
And I can't help it I'm gonna meet you here tomorrow night
I'm telling you (Whoaaa)


05. Fulton Country Correctional Call (Interlude): Nada de especial nessa interlude. Mostra uma ligação para um presídio, certamente para introduzir o problema da próxima música, I Can't Mess With You.


06. I Can't Mess With You (Feat. The Dream): Utilizando o sample mais reproduzido na história da humanidade - You Are Everything, aclamado dueto de Marvin Gaye e Diana Ross - aqui tem-se outra canção parecida com Parking Lot. O ritmo de slow jam não engana quando o refrão começa a tocar. I can't mess with you, cause I'm still in love with you. Sabe-se que a letra original não conseguiu ser incorporada ao CD por ser muito mais explicito que isso. A produção é de The Dream, que consegue transformar a mais doce das antigas canções R&B em algo um tanto quanto vulgar, embora com uma certa discrição. Definitivamente vale conferir o trabalho "sujo".


Letra do CD:

I can't mess with you
Cause I'm still in love with you


Letra da Demo:

I can't f**k with you

Cause I'm still in love with you


07. Breathe (Let It Go): N-I-V-E-A-A-A-A - é assim que Nivea abre as portas pra essa ótima canção R&B. Voltando todos os esforços para o que é interessante na atualidade, ela busca incrementar, através de referências diretas à música Burn - do cantor estadunidense Usher - a essência de Breathe. Os ad-libs e o loop viciante formam um interessante par nessa canção mid-tempo. Cantando num estilo ghetto, ela consegue nos prender tanto nos versos quanto no refrão e na bridge - que é toda cantada em falsetto - onde clama pela volta de seu amado, embora saiba que deva "deixar pra lá" (let it go). Seria uma ótima candidata a single, definitivamente.


I gotta let it go

Even though I can't live without you
Don't wanna lose control (breathe in, breathe out)
Even though I'm missin' everything about ya
And I'm trynna keep my composure
But on the inside it's really killing me
All I can do is just breathe in, breathe out

08. Quickie (Feat. Rasheeda): Uma canção um tanto quanto interessante. Utiliza elementos clássicos do R&B com batidas mais atuais e tem um rap bastante inteligente. Mas nada de muito especial.


09. Indian Dance: No maior estilo oriental, a canção consegue incrementar o estilo r&b contemporâneo de Christina Milian - mais conhecida pela insana canção Dip It Low - com o balanço melódico digno de alguma boa música vinda do Marrocos. Mais uma pra acrecentar à lista de músicas prontas para o mercado urban. Os ad-libs e o fundo são perfeitamente sincronizados com o violão que consegue, por sua vez, casar e muito bem com as batidas criadas para não sair do conceito r&b dançante.


Went in My A, all the way to Jamaica

From New york back across to the bay now
I see you watching and I know you wanna get in me
Boy I have you singing like them indians

10. No More: Utiliza uma batida R&B comum, com acrobacias vocais diferentes, incluindo modificações no vocal, deixando-o mais fino.


11. Gangsta Girl (Feat. R. Kelly): Nivea conseguiu com que R. Kelly retribuísse a colaboração em Laundrymat nessa canção extremamente sexy, sobre ir para a cama com uma garota da máfia. Pena que é bastante curta.

12. Okay (Red-Cup Remix Feat. The Dream): A melodia é retirada de uma canção de Mariah Carey, Breakdown. Neste remix o cantor e produtor The Dream aparece fazendo uma boa participação, mencionando nomes relevantes do R&B, como Mary J. Blige, Usher, Monica e etc. O vocal é totalmente diferente da versão orginial e ficou até mais interessante, uma versão mais laid back, mais suave e menos Crunk.


13. So Far: Clássico R&B com um refrão interessante. Nada mais que isso.


14. It's All Good: Essa é talvez uma das mais gostosas de se ouvir. Canção um pouco mais lenta, com vocais bem relaxados. Incorpora um pouco do soul às batidas contemporâneas.


15. My Fault (Ghetto Apology) [Bonus Track]: Essa canção é muito boa. Cai também no campo de produções comuns do The Dream, mas poderia facilmente ter entrado no CD.


*


A partir de todas essas demonstrações de quanto o Crunk'nB é divertido e também pode ser moldado em canções mais introspectivas, Nivea consegue nos prender do começo ao fim. O trabalho, infelizmente, não conseguiu ganhar a notoriedade merecida e as grandes produções de The Dream demoraram para serem reconhecidas devidamente. Em 2007 muitas de suas produções ganharam destaque, sendo Umbrella - emplacando seis semanas em #1 - a principal. Enquanto isso, Nivea ainda luta para que seu Crunk'nB seja notado algum dia. É uma pena que Animalistic não conta com resquício algum da qualidade de produção de Complicated.


DESTAQUES: Complicated, Parking Lot, Breathe, I Can't Mess With You (Feat. The Dream), It's All Good, My Fault (Ghetto Apology) e Okay (Red-Cup Remix Feat. The Dream).


FRACAS: Somente So Far.


AVALIAÇÃO


Rafaélico.

[Ao som de When You Believe, Mariah Carey & Whitney Houston - #1's, 1998]